22.4.06

Peça: 25. Uma Primeira Lembrança


- para o velho Mut

Hoje algumas de minhas primeiras lembranças me afligem e me alegram brevemente, como toda lembrança.

Relembro a imagem de Deus ao tocar meu ombro e dizer, quando adormecia o dia: "descansa, Adão, descansa".
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A foto, como já se sabe, é detalhe da Criação de Adão, de Michelanguelo

13.4.06

Exposição: B. H. in Satin


Lady In Satin - Billie Holiday (1958)

Há dias em que se ouve música para se estar. Outros há em que se ouve para acompanhar as horas. Mas há dias em que se ouve a música porque ela é tudo o que nos resta, tudo o que somos.

Em dias como estes, como este, Billie Holiday vestida em cetim é mais que suficiente. É providencial. Ainda mais: é perfeita.

Lady in Satin foi gravado em 1958. Deveria ser ouvido pelo menos uma vez por dia de lá até aqui.

Tenho certeza de que nenhum coração humano pode ouvir canções como I Get Along Without You Very Well, Violets For Your Furs, But Beautiful, etc. sem estremecer a cada palavra que desliza pela garganta sagrada da Ms. Brown to me. Lady Day canta com a delicadeza de quem passa a lâmina gentil sobre seus pulsos: e você gosta. E quer mais, não recusa.

Faixas:

1. I'm A Fool To Want You
2. For Heaven's Sake
3. You Don't Know What Love Is
4. I Get Along Without You Very Well
5. For All We Know
6. Violets For Your Furs
7. You've Changed
8. It's Easy To Remember
9. But Beautiful
10. Glad To Be Unhappy
11. I'll Be Around
12. The End Of A Love Affair


But Beautiful
por Johnny Burke / James van Heusen

Love is funny or it’s sad
Or it’s quit or it’s mad
It’s a good thing or it’s bad

But beautiful
Beautiful to take a chance and if you fall, you fall
And I’m thinking I wouldn’t mind at all
Love is tearful or it’s gay
It’s a problem or it’s a play
It’s heartache either way

But beautiful
And I’m thinking if you were mine
I’d never let you go
And that would be
But beautiful
I know
Love is beautifull
I know


* Há ainda uma versão remasterizada deste disco com faixas bônus, de 1997.

Mais fotos no Museu de Tudo no multiply

5.4.06

Peça: 24. Trecho de uma conversa ouvida entre porões sem esquecimento

- Diremos que se matou porque era um fraco.

- Ninguém acreditará.

- Diremos que se matou para não delatar seus comparsas.

- Ninguém acreditará.

- Diremos então que se matou para proteger a família.

- Mas ninguém acreditará.

- Então diremos que se matou e só. Depois confiemos na força das armas que nos escondem e do profundo murmúrio silencioso que sai destes porões.

- Ninguém acreditará, mas é isso o que faremos.

E, verdadeiramente, ninguém acreditou.