31.7.06

Exposição: Jards Macalé no Movimento dos Barcos

Sem muito a dizer. Caiu em minhas mãos, hoje, esse lindíssimo disco, estréia de Jards Macalé, de 1972. E como falam da tal angústia da influência, para minha surpresa, publico um poema meu ao lado de uma bela letra de Capinam... para me matar de inveja...

Um disco absolutamente perfeito. Maiúsculo. Esse deve ser discografia básica de cada cidadão neste mundo.

Jards Macalé – Jards Macalé (1972)
1 Farinha do desprezo (Capinan - Jards Macalé)
2 Revendo amigos (Jards Macalé - Waly Salomão)
3 Mal secreto (Jards Macalé - Waly Salomão)
4 78 Rotações (Capinan - Jards Macalé)
5 Movimento dos barcos (Capinan - Jards Macalé)
6 Meu amor me agarra & geme & treme & chora & mata (Capinan - Jards Macalé)
7 Let's play that (Jards Macalé - Torquato Neto)
8 Farrapo humano (Luiz Melodia)
9 A morte (Gilberto Gil)
10 Hotel das estrelas (Duda - Jards Macalé)


meu amor me agarra & geme & treme & chora & mata (jards macalé-capinam)

meu amor é um tigre de papel
range, ruge, morde
mas não passa de um tigre de papel
numa sala ausente meu amor presente
me esconde entre os dentes
depois me abandona e vai definitivamente
definitivamente volta ilude desilude
range ruge rosna
velho tigre de virtudes

nas selvas de seu quarto entre florestas cartas
frases desesperadas lençóis
onde me ama
furiosas garras
meu amor me agarra & geme & treme & chora & mata
um tigre de papel perdido no lençóis da casa


os tigres de papel

o meu poeta
é um menino que
recorta tigres de papel –
sempre a aparar arestas
que geram
arestas – e as apara
apara-as muitas vezes –
vê-las surgir
sempre

o meu poeta
é um menino que
amputa versos –
como quem arrancasse as patas
de seu tigre de papel –
sempre a aparar arestas
que geram
arestas – e as apara
apara-as muitas vezes

o meu poeta
é um menino
sempre a aparar arestas
que geram
arestas – e as apara
apara-as muitas vezes –
até ver surgir
seu tigre ínfimo
quase impossível.

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Para mais, sobre este disco e Jards Macalé, acesse o sítio oficial do Jards Macalé

Infelizmente não consegui fazer o carregamento da capa do disco para cá... mas há de passar... dêem uma olhadinha no sítio do Macalé. Para a página principal, clique aqui.

20.7.06

messias

sozinho
ele está despido
no deserto

escreveu seu coração
na areia
para não carregar a angústia
pétrea de seu medo
até os últimos dias

quando o povo vier ao seu encontro
ele fugirá
para mais longe ainda
continuará despido e


sozinho
ele estará despido
no deserto

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Este museu tem estado abandonado, relegado à poeira e a um breve esquecimento. Mal lembrava-me a última vez em que estive aqui. Trago então este poema - queria dizer "que tem a forma do teu seio", como escreveu Quintana - frágil, rápido, feito da lama que ainda resta do barro de que sou feito. Volto melhor em breve, sobretudo, para revisitar os amigos. Grande abraço.

Hoje, sem fotos.