Hoje algumas de minhas primeiras lembranças me afligem e me alegram brevemente, como toda lembrança.
Relembro a imagem de Deus ao tocar meu ombro e dizer, quando adormecia o dia, "descansa, Adão, amanhã haverá o tempo".
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Mais uma nota de minhas desculpas inaceitáveis: tanta coisa tem me confundido, me acontecido, que tenho exercido muito poucamente a minha escrita ainda imatura. Quase nada tenho escrito de muito novo. Em verdade, estou a recuperar esboços destes últimos dois anos e que nunca foram utilizados. Por isso a escrita tão esgarçada e ainda me tem faltado competência para visitar os amigos sempre tão queridos. Continuo repetindo interiormente André Gide e dizendo "Se não puderes dizer 'tanto melhor', dize 'não faz mal'; há nisso grandes promessas de esperança".
Curador, este museu está sempre aberto. O pó sobre estas peças é parte delas. Seja bem vindo!
29.1.07
16.1.07
Um Homem é Feito de Silêncios
Um homem é feito, sobretudo, de silêncios. É o silêncio a matéria que precede o barro, o silêncio da criação. E é desse silêncio que retomamos nossas forças, nossos impulsos.
Os primeiros esboços de um novo ano começam a ser traçados. Já se podem perceber algumas formas por trás destes primeiros dias: o esboço ainda é tímido, no entanto. Assim começam todos os anos: lentamente.
Esse começo lento é precedido por silêncio. O mesmo silêncio que precede o tempo e que a ele sucederá, provavelmente. O silêncio mesmo que havia antes do Nada e antes da ordem de se fazer a luz.
Desse silêncio sou feito. Cada um de nós e eu.
Este ano que já não é foi carregado de silêncios. Um calar profundo, de me fazer quase esquecer quem sou. O silêncio desse ano que já não é foi pesado, embora recompensador. Não consigo ainda recordar de todo meu nome e meu rosto diante do espelho: não os recordo exatamente ou já não são mais os mesmos. Pouco importa, aliás. Afinal, que importa o nome e a cara que temos? Não são nada de fato. O silêncio sim, o silêncio é.
Este ano que agora começa, lentamente eu disse, me traz algum som e o primeiro são estas linhas, enigmáticas talvez ao ponto de nada significarem senão para mim. Que seja, as primeiras palavras são quase sempre incompreensíveis. Só os silêncios são suficientemente claros e suficientemente eloqüentes.
As ruas sob o véu denso das madrugadas, a praça, a feira, as estátuas todas dormentes na madrugada: pode-se tocar com as mãos sujas no silêncio que as doma e é possível entender o que dizem, cada rua, cada beco, cada voz inaudível. É um convite: andem pela cidade nas madrugadas, sobretudo as raras madrugadas que sucedem as chuvas. São poucos os lugares em que se ouvirá melhor o silêncio das coisas. É nessas horas que só as coisas reais existem de fato.
De fato existe o silêncio.
O silêncio que principia estes primeiros sons. O silêncio que precede e sucede tudo, desde o sopro de Adão até o fim de todas as coisas, que precede e sucede o tempo, a música, a vida e o esquecimento. Que precede e sucede o riso, a angústia, o choro e a ventura. O silêncio que é.
Que tudo recomece. Que saibamos ouvir o que nos diz nosso silêncio criativo.
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Oito ou dez coisas para começar bem 2007
O livro Ó Serdespanto, do paraense Vicente Franz Cecim
A comédia sensível e despretensiosa A Vida Marinha com Steve Zissou
O profundo e belo filme Nossa Música, de Jean-Luc Godard
Um disco de Noel Rosa
Uma visita ao tenebroso site de fantasias Celebration Complex (www.celebrationcomplex.com.br)
Uma visita aos bons e velhos amigos
Qualquer poema do Manoel de Barros
Ter um cachorro
Encurtar a memória para que a vida não pese demais
Desligar os telefones
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Este ano, para garantir algumas publicações aqui no museu, vou publicar as colunas que escrevo para o Jornal do Seridó, jornal aqui de Currais Novos. Essa é a primeira coluna do ano.
Os primeiros esboços de um novo ano começam a ser traçados. Já se podem perceber algumas formas por trás destes primeiros dias: o esboço ainda é tímido, no entanto. Assim começam todos os anos: lentamente.
Esse começo lento é precedido por silêncio. O mesmo silêncio que precede o tempo e que a ele sucederá, provavelmente. O silêncio mesmo que havia antes do Nada e antes da ordem de se fazer a luz.
Desse silêncio sou feito. Cada um de nós e eu.
Este ano que já não é foi carregado de silêncios. Um calar profundo, de me fazer quase esquecer quem sou. O silêncio desse ano que já não é foi pesado, embora recompensador. Não consigo ainda recordar de todo meu nome e meu rosto diante do espelho: não os recordo exatamente ou já não são mais os mesmos. Pouco importa, aliás. Afinal, que importa o nome e a cara que temos? Não são nada de fato. O silêncio sim, o silêncio é.
Este ano que agora começa, lentamente eu disse, me traz algum som e o primeiro são estas linhas, enigmáticas talvez ao ponto de nada significarem senão para mim. Que seja, as primeiras palavras são quase sempre incompreensíveis. Só os silêncios são suficientemente claros e suficientemente eloqüentes.
As ruas sob o véu denso das madrugadas, a praça, a feira, as estátuas todas dormentes na madrugada: pode-se tocar com as mãos sujas no silêncio que as doma e é possível entender o que dizem, cada rua, cada beco, cada voz inaudível. É um convite: andem pela cidade nas madrugadas, sobretudo as raras madrugadas que sucedem as chuvas. São poucos os lugares em que se ouvirá melhor o silêncio das coisas. É nessas horas que só as coisas reais existem de fato.
De fato existe o silêncio.
O silêncio que principia estes primeiros sons. O silêncio que precede e sucede tudo, desde o sopro de Adão até o fim de todas as coisas, que precede e sucede o tempo, a música, a vida e o esquecimento. Que precede e sucede o riso, a angústia, o choro e a ventura. O silêncio que é.
Que tudo recomece. Que saibamos ouvir o que nos diz nosso silêncio criativo.
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Oito ou dez coisas para começar bem 2007
O livro Ó Serdespanto, do paraense Vicente Franz Cecim
A comédia sensível e despretensiosa A Vida Marinha com Steve Zissou
O profundo e belo filme Nossa Música, de Jean-Luc Godard
Um disco de Noel Rosa
Uma visita ao tenebroso site de fantasias Celebration Complex (www.celebrationcomplex.com.br)
Uma visita aos bons e velhos amigos
Qualquer poema do Manoel de Barros
Ter um cachorro
Encurtar a memória para que a vida não pese demais
Desligar os telefones
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Este ano, para garantir algumas publicações aqui no museu, vou publicar as colunas que escrevo para o Jornal do Seridó, jornal aqui de Currais Novos. Essa é a primeira coluna do ano.
3.1.07
Notre Musique

Para nos redimir de nossos próprios erros, devemos começar pelo olhar sublimado sobre eles.
2007 para mim começa com um filme de 2004: "Nossa Música", do genial Jean-Luc Godard, com um olhar cinematográfico além da beleza sobre nossos tempos de guerra. Assim é o cinema, como diz o diretor a interpretar-se no filme: o cinema é a luz a iluminar nossa noite.
Comecemos o ano com nosso olhar atento sobre nós, para a beleza.
Um grandfe abraço e o desejo de felicidades aos amigos que sempre passam por aqui, por estas peças de pó.
Alvíssaras!
2007 para mim começa com um filme de 2004: "Nossa Música", do genial Jean-Luc Godard, com um olhar cinematográfico além da beleza sobre nossos tempos de guerra. Assim é o cinema, como diz o diretor a interpretar-se no filme: o cinema é a luz a iluminar nossa noite.
Comecemos o ano com nosso olhar atento sobre nós, para a beleza.
Um grandfe abraço e o desejo de felicidades aos amigos que sempre passam por aqui, por estas peças de pó.
Alvíssaras!
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