4.3.07

Peça: 33. Notas Avulsas de Um Caderno de Viagens

Dia quarto

A vida acontece em grandes torrões de riso e sal nesta cidade. Hoje pela manhã, perto de uma das ruas principais, um monturo de crianças arrastava um cão morto por uma corda. Gritavam como pequenos selvagens. Havia nelas a violência explosiva de seus pais e dos homens que habitam as esquinas escaldantes destas ruas. Quase devoravam vivo o pobre cão morto.

As mulheres avistavam de longe seus filhos multiplicados no mundo. Uma delas sorria quase. Era por certo a mãe do menino que empunhava a corda no pescoço do cão. Era um troféu, eu sei: era um troféu.


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Dia décimo nono

Aqui o sol se põe ao avesso, entreva as mãos antigas de meninos ainda muito jovens. A foice que corta a cana mal se equilibra em suas mãos destroçadas, entrevadas por um sol mal posto.

Mas a noite há de durar, eu sei.

16 comentários:

Anônimo disse...

duas cenas de fazer doer o coração do Brasil, descritas com seu talento de sempre...um beijo

Theo G. Alves disse...

célia,
as cenas são doloras mesmo e mal consigo lembrar-me exatamente como as enxerguei.
eu agradeço por sua generosidade comigo e minhas oalavras ainda titubeantes.

beijo!!

Luciene Danvie disse...

Descrição sensível de uma triste constatação do que mostra-se um ser humano(?). Você, Théo, figura grande e perceptiva das imagens descritivas-fotograficas dessa vida de aqui!
Abraços e obrigada pela visita!

Theo G. Alves disse...

Lu,
os seres humanos têm mesmo umas coisas que aparentemente os distancia do que são.
Suas palavras, Lu, são muito mais generosas do que mereço. Certamente a visitarei com frequencia e agradeco sua vinda a este museu-claudicante. Sinta-se sempre bem vinda.
Abraço!!

Iara Maria Carvalho disse...

Há de durar, eu sei. Essa noite. Como permanece a esperança nos dias bons. Em meio a essas mãos de pedra, fica o silêncio de quem queda ao se deparar com a beleza da sua poesia.

Você é fantástico, menino!

Beijão e até dia 14 de março! (em tempo combinaremos tudo direitinho...)

Xerão!

Theo G. Alves disse...

Iara,
sempre tanta delicadeza e carinho de sua parte, que nem sei como se agradece.

Quanto ao dia 14, sim, sim, combinemos. Nos falamos esses dias para acertar direitinho.

Beijo muito grande, menina na janela! :)

Aldenir Dantas disse...

Meu caro Théo...

Recuso-me (estrategicamente) a falar sobre estas duas peças, mas asseguro que irei senti-las por sabe deus quanto tempo...

Grande abraço

Marco disse...

Este teu post poderia se chamar "Ai de ti, Babilônia". Muito bom, Theo. De fazer arder os olhos. mas muito bom.
Bom final de semana. Carpe Diem. aproveite o dia e a vida.

Theo G. Alves disse...

Marco,
muito obrigado! Verdade é que esse mundo anda meio desarrazoado...

E vamos nós aproveitar essa vida!

Um abraço!

Lunna Guedes disse...

Cadernos de Viagens... Hummmm.
Já dá vontade de fazer as malas e seguir viagem para algum canto de mim ou para algum canto do mundo sem pressa, apenas apreciando detalhes que em alguns momentos passam desapercebidos...
Abraços

Anônimo disse...

Longos dias sem visitar o museu...
Estava com saudades das belas fotografias que suas palavras criam...
Também andei dando uma passada pelos tabernáculos e janelas dessas paragens virtuais e só então percebi o quanto estava sedenta de beber dessas águas...
Grande abraço!

Theo G. Alves disse...

Lunna,
me parece que partir é sempre positivo, importando pouco pra onde se vá, desde que se parta... mesmo para uma viagem interior...
eu fico contente com sua visita a este museu empoeirado e combalido, mas sempre aberto e acolhedor...

abraço!

Theo G. Alves disse...

Márcia,
longos dias como longos são os dias...
fico contente que vc tenha resolvido visitar os amigos... na verdade, nossos blogues são bons retratos do que temos feito...
venha sempre. as portas deste museu estao abertas!

abraço!

Anônimo disse...

enfileirados, os dias correm o sério risco de passarem despercebidos. ainda bem que há cadernos de viagem para conceder-lhes algum tipo de decência. o seu, particularmente, confere-lhes mais: confere-lhes importância. 1 grande abraço.

Anônimo disse...

adorei "A Casa " , Theo. e adorei lhe encontrar, mesmo a jato, em Natal. beijo grande.

Theo G. Alves disse...

márcia,
fico contente que você tenha encontrado aconchego na Casa... e, mesmo a jato, vou sempre dar um jeitinho de ir ver os amigos.
Fico aguardando as fotos de nossa atualização de cadastro com Antoniel
:)

beijo muito grande!!