Nos dias de chuva - dias raros por estas bandas do mundo - o tempo me enche de uma melancolia levemente doce e tranqüila. Nos dias de chuva, essa é uma delicadeza ancestral. Quase um poema do Mario Quintana que viesse se repetindo durante inúmeras gerações, à maneira de uma Macondo sem sofrimentos e contemplativa, onde a ação é algo mais interior e poético, usurpado brandamente de baús muito antigos, feitos à mão.
Nos dias de chuva por estas bandas, ainda que não haja chuva, todos os homens são mais homens que machos. Nos dias de chuva por estas bandas, ainda que não haja chuva, todas as mulheres adquirem um ar de doçura triste que lhes dá um tom ainda mais próximo dos sonetos de Shakespeare.
Por estas bandas, quando o céu está dormindo pesado sobre nossas cabeças, quando o sol está arrefecido e a água parece mais que nunca uma bênção sem um deus exato e milimétrico, tenho a sensação real, tão real e nítida, de que sob essa melancolia dos rostos, sob a beleza dessa luz inesperada que o dia toma, sob a tranqüilidade e os encantos das crianças nas ruas, todos nós somos mais felizes. Tenho a sensação de que eu sou mais feliz, por mais que não o seja.
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Texto publicado há um par de anos em "O Centerário"
51 comentários:
nota autobiográfica
as ruas gemem
vejo os lampiões a tenir
os corpos sobre a mesa
levanto a toalha
e eis que se abate uma guerra
as facas tombam
lâminas pontiagudas como olhos
cera
sémen pendente como um mapa
a torneira apagada
cascas
restos de comida nos bolsos
o cotão dos livros à solta
a espera
e vem-me o período
como um relógio perene
beijinho
alice
Este blog foi o primeiro blog papo cabeça que encontrei e por isto minha eterna devoção ao O Centenário, seu layout em tons de areia lembrando o tempo e o vento... Em dias de chuva, de cheiro de terra molhada, as transformações são inerentes à nossa vontade. Qeu poder é esta da natureza sobre nós?
alice,
tenho inveja (boa) de qualquer pessoa cuja biografia caiba em mais de 3 linhas. A minha, por enquanto, já alcançou meia linha (se eu usar fonte/tipo 14).
:)
Belo texto o teu.
Beijo!
Claudinha,
quem me dera ser devras merecedor de sua devoção: tenho mesmo de agradecer aos rumos tortos da vida que te pôs diante do Centenário antes de outros blogues tão maravilhosos que há aos montes por aí. Os meus recantos são modestos, humílimos, são aquários de peixes miúdos. Mas fico grato, gratíssimo, que gostes daqui.
Sinta-se sempre em casa!
Beijo!
Lindo texto , lindo mesmo Theo. Mas eu sou daqueles caras que odeia a chuva , pois ela sempre aparece nas piores horas. Ainda hei de gostar da chuva , talvez isso venha com o tempo. Talvez seja um dia indiferente a ela. Não sei , sinceramente não sei.
Só sei que não consigo mais ficar acordado pra te esperar nos sábados de madrugada... pelo menos nos últimos tempos.
Um abraço!
Mut, meu velho,
muito obrigado. Mas aqui a gente gosta da chuva porque ela nao pertence a nossa natureza. Aqui temos pouquissima chuva durante o ano, logo pouquissima agua e padecemos um bocado com isso. todo ano há uma expectativa enorme a respeito da chuva. se chove pouco temos um ano dificil, cruel.
as coisas sao complicadas aqui.
quanto às minhas aparições, meu velho, tenho vindo pouco, pouquíssimo por essas bandas cibernéticas. é o tempo, a falta dele, o dia tem sido pequeno. mas apareço em breve.
grande abraço!
Em dias de chuva como estes, me recordo de belos olhos de chuvas que amei .... a chuva nao cai no nordeste , sempre desagua em meus olhos de seca.
Parabens pelo texto.
Guimel
Meu caro Theo, o Centenário foi um dos primeiros endereços que visitei nestas paragens blogueiras, claro que fiquei encantada e depois, qdo soube da extinção, mto triste. Ainda bem que surgiu este Museu p/ nos brindar com o talento da sua escrita, que pelo texto postado aqui era e continua sendo um exercício de puro prazer e deleite p/ nossos olhos e espírito.
Pra quem não conhece nosso rincão nordestino, a chuva é incômoda e chata, pra, nós é o contrário, sinônimo de alegria e bonança, tão bem descritas neste post.
Belíssimo texto, meu amigo, belíssimo!!!!!!!!
Abraço grande, daqui da Serra, mais verde que nunca!
Guimel,
a chuva não deixa de ser uma esperança: seja de renovação, seja dea mor.
Um grande abraço!
Glorinha,
você é sempe gentilíssima e bondosa demais com este amigo transbordado de hiatos. Sempre uma palavra gentil pra me animar...
Imagino que a serra deva estar linda estes dias. Quem sabe um dia stisfaço um desejo antigo e vou morar numa casa pequena e aconchegante numa serra destas bandas... sempre me encantaram, desde muito menino.
Um grande beijo, daqui desta cidade sem cor, mais que nunca.
theo, meu velho. texto antigo retratando belezas e inquietações que nunca saberão o que é ontem, hoje ou amanhã. suas palavras chovem, talvez por serem (a)temporais. cum deus, meu caro. grande abraço
Theo, vc demora demais a escrever. Sei que deve ser seu curto tempo mas que dá saudade, dá, viu? Também não gosto do período de chuvas mas sei que elas são importantes e interessantes aqui no nordeste. Gosto é de frio. Bem muito frio.
Liliane
Querido Théo, entrei agora neste museu de inesquecíveis peças e me deparei com dias de chuva abençoados ... Tive a sensação de ficar mais feliz. Obrigada por isso, obrigada pelas palavras, por estas e pelas que escreveu para mim no post anterior. Beijo grande.
Marcos, meu bom amigo,
suas palavras é que me deixam contente, meu velho. Queria saber retribuir à altura o carinho que com que vc me presentei à cada palavra. Eu que tenho sido tão negligente, sempre a te escrever e-mails que nunca envio... mas o carinho, meu velho, este está sempre presente em cada letra que leio e escrevo.
Forte abraço!!
Liliane,
fico feliz que minhas demoras, meus "hiatos" te provoquem saudades... é verdade que tenho desfrutado cada vez menos de tempo, mas também sinto falta. Tenho ainda sentimentos muito dúbios com a relação ao prazer/angústia que escrever me proporciona. Às vezes acho que escrevo menos quando estou mais feliz, às vezes acho que é o contrário. Nunca sei ao certo...
Quanto ao frio, eu também gosto muito. assim como da neblina, dos chuviscos, essas coisas. Sempre se quer o que não se tem...
Beijo!!
Marilena, minha querida,
inesquecíveis mesmo são os amigos que este museu me traz... todo o agradecimento aqui é de minha parte, sou eu quem tem o que agradecer e muito e agradeço. É sempre enorme alegria ter você por aqui!
Beijo!!
théo, meu caro. bonito texto. E a gente que não se vê mais, hein? Estou divido entre esses seridós de currais, acari, caicó...mas quaisquer dias dessas passo aí para botar o conversa em dia. um abraço seridoense em dias de chuva.
Théo: Se vc morasse em Natal e pudesse, eu queria tomar umas lições de como escrever assim. O lirismo, a leveza, a palavra bem colocada, sem falar no conteúdo. E sem gastar palavras, com uma concisão digna de nota . E esse é um texto de 2 anos atrás. De lá pra cá vc só tem evoluído. Parabéns. Um grande abraço.
Wescley, meu velho,
tu andas mesmo sumido e eu também já não apareço muito... mas é verdade que precisamos nos ver! sempre precisamos! há tanta coisa para botarmos em dia: música, leituras, boas conversas que sempre tivemos.
Apareça, meu velho. apareça!
Grande abraço!!
Sobreira, meu caro, tenho de confessar minha incompetência para as lições de escrituras... na verdade, sou aprendiz contínuo, sempre recebendo lições.
Mas seria imenso prazer poder ser companheiro para uma tarde natalense. Infelizmente vou pouco à capital (complexo de interiorano, eu acho), mas seria fantastico poder encontra-lo por aí qualquer dia.
Quanto às suas palavras, meu amigo, essas nem sei como agradecer!!
Visito um velho clichê e digo: Muito obrigado!!
Um enorme abraço!
Oi Theo.
estive em Currais, por esses dias de chuva - sem chuva - e confirmo que a cidade tá mais bonita que sempre; aliás, a região tá toda mais bonita, Serra Negra, por exemplo, tá um escândalo de bela!
Não te vi nem deu pra tentar um contato; mil e um envolvimentos no colóquio, cuidando de convidados que trouxe de Jampa. O encontro, aliás, foi excelente.
Quanto a seu texto, é tão bom quanto um dia de chuva no Seridó.
abraço meu.
Théo, o tempo passa e o prazer de passar por este museu só aumenta.
Te ler, reler é sempre uma surpresa doce, mansa, delicada e renovadora como um dia de chuva.
Belissimo!
Bjos.
Assino embaixo... apesar de os dias de chuva serem mais comuns por essas bandas o sentimento é sempre o mesmo, e o mesmo seu...
"Quando chove, tudo faz tanto tempo que qualquer poema que acaso eu venha escrever, sempre vem datado de 1789" (mais ou menos assim) Mario Quintana (era a este poema que te referes no texto? ;))
Adorei esse texto... cheio de referencias... cheio de sentimento... cheio de ti!
Um abraço
Marcela
Caro Théo, seu texto flui como a própria água, tão escassa por estas suas bandas. Celebre a chuva prazenteira e nós celebramos seu talento.
Neste dia, dê um grande beijo na sua mãe por todos nós, seus amigos.
Meu caro: Um texto maravilhoso (espero publicá-lo no Balaio o mais rápido possível), "chovendo" com as palavras e a textura da vida sertã. Um grande abraço.
que as chuvas boas sempre te tragam inspirações assim, úmidas e doces.. um beijo
Camilo,
uma pena não ter encontrado voce no colóquio. infelizmente não pude ir. Mas seria ótimo tê-lo encontrado por estas bandas. Da próxima vez que você vier, não deixe de avisar, pois darei um jeito de podermos nos encontrar por aqui.
Fico de todo agradecido por suas palavras, meu caro! Um grande abraço!!
Anne,
volte sempre a visitar este museu feito de pó. É sempre bom tê-la por aqui...
obrigado e um grande beijo!!
Marcela,
o poema do Quintana era esse mesmo. Quintana é lindo, não é?! Fico contente que tenhas gostado do texto: é como sinto a chuva por estas bandas.
Um abraço!!
Marco, meu caro,
temos sempre de celebrar estes tempos de chuva. Estranha e felizmente tem chovido um bocado por aqui, com frequencia. Pancadas de chuva sulina. Inesperadas. Mas muito bem vindas.
Encontrei minha mãe (minhas mães) no sábado e adiantamos a celebração do dia. Espero que tenha sido bom pra ti aí também!
Um grande abraço, meu amigo!!
Moacy, meu bom amigo,
que saudades sentia de você por estas bandas. você conhece bem esta alegria melancólica de chuva por estas bandas. nosso sertanismo sempre nos dá de presente este saber.
Ficarei felicíssimo de rever texto meu lá no Balaio tão estimado!
Um grande abraço!
MIlton,
deve ser uma honra estar na terra de quintana, ver chovendo e repetir um poema do poeta simples... um dia ainda conhecerei essa terra que é dele e sua.
Tenho sentido uma falta danada de visitar um dos melhores blogues que conheço e que é o teu. vou me arranjar para passar lá o mais rápido possível.
Um abraço ainda maior, meu querido!
Célia,
as chuvas trazem sempre tanta coisa boa por aqui... oxalá continuarão trazendo: inspirações, alegrias e água sobretudo!
um grande beijo!!
por essas bandas,de cá, também.
beijo de saudade.
Oi, cara, seu texto está editado no Balaio. Um grande abraço.
Dá pra reconhecer o dia de chuva, Theo, e como é bonito! Beijos pra você.
márcia querida,
também eu tenho sentido saudades...
beijo enorme!
moacy, meu amigo, é sempre uma honra poder figurar nas terras do balaio vermelho...
um grande abraço!
adade,
muito obrigado!! saudades...
grande beijo!
...todas as mulheres adquirem um ar de doçura triste que lhes dá um tom ainda mais próximo dos sonetos de Shakespeare....
Me identifiquei muito com esse trecho, por ser mulher, acho... rsrsrsrsrs
E também por querer ter sempre o carinho e o calor humano. Nos dias de chuva, pricipalmente....
Dessa vez não quis passar em silêncio.
Te admiro muito.
Mais uma vez, Eu.
vim ver de novo essa chuva..e vc anda tão quietinho, saudades, um beijo
é a água poeta. e como nascer e morrer melhor?
sds
theo, meu velho, não sei se credito este teu sumiço aos dias de chuva (não se afogaste, não, né? rsss...) ou à sensação de se ser-estar mais feliz. forte abraço.
só pra dizer que estou com saudade de vc. ;)
Theo,
Compromissos me impedem de visita-lo mais vezes, pelo menos tanto quando eu gostaria. E cada vez que venho tenho surpresas agradáveis. grande abraço pra vc. fica com Deus.
Theo caríssimo, que sumiço é esse, mto trabalho ou está de saco cheio c/ o blog? Tdo bem, às vezes acontece...passei só pra dizer que estou com saudade, mta saudade...1 grande beijo!!!!!!!!!!
PS: Para vc:
Morte e Vida Severina
João Cabral de Mello Neto
(...)
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
Theo caríssimo, que sumiço é esse, mto trabalho ou está de saco cheio c/ o blog? Tdo bem, às vezes acontece...passei só pra dizer que estou com saudade, mta saudade...1 grande beijo!!!!!!!!!!
PS: Para vc:
Morte e Vida Severina
João Cabral de Mello Neto
(...)
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
Suma não escritor. Volte com a passarada.
abçs
O que está acontecendo, rapaz? Obrigações profissionais e/ou literárias? Problemas afetivos e/ou existenciais? Pô, cara, quando teremos a atualização de seus blogue? Um abraço fraterno.
Meu lindo Amigo, saudade profunda de Você. Te desejo muita música e poesia, sempre e... vê se coloca novas peças neste Museu.
Por aqui, sempre espionando...
Denis, o aluado.
Ah, Theo,
tinha saudade de vir aqui! Embora os dias de chuva me encharquem de uma melancolia mais pesada do que doce, teu texto é balsâmico. Lenitivo. Abraço.
AOS AMIGOS,
tenho tido algumas dificuldades com o tempo ultimamente... devo ter um pouco mais de folga a partir de julho, talvez... nada certo ainda... assim que puder, volto a publicar alguma coisa por aqui... tenho escrito nada na verdade, mal tenho pensado, para ser de todo sincero...
ultimamente algumas dificuldades técnicas agravaram a situação: problemas clássicos: windows, internet, tecnologia...
tenho sentido falta do museu, que é na verdade saudades dos amigos, de ser lido e de lê-los sobretudo... mas volto em breve!
Grande abraço!!!
Ainda bem,meu caro. Que julho venha logo! Aliás, já está chegando... Um grande abraço.
Moacy, meu amigo,
a gente que é destas bandas do mundo sabe bem que julho sempre chega, junto com o que conhecemos como frio, com gente reunida pra ver santana e essas coisas...
ha de chegar, meu caro, há de chegar bem este novos mês!
grande abraço!
Theo , onde está você?
Sumiu na poeira do deserto?
Precisamos nos encontrar , para conversar. O sinal vai abrir...
Um abraço!
Passando para dizer que sinto falta dos textos que conheci no O Centenário, das reflexões e de suas letras! Beijo!
onde anda vc?? saudades... um grande beijo.
Mut, claudinha e celia,
estou ainda tentando dar uma organizada nos meus horarios e nos trabalhos por aqui pra poder voltar a escrever e publicar direitinho por aqui, poder visitar os amigos, essas coisas...
a vida tem andado meio maluca, mas volto ainda.
abraço procês!! tb tenho sentido saudades.
Julho!!!... já chegou!!!
É, sweetheart, chegou sim... e já estou me arrumando pra voltar a ter um tempinho para o Museu e para visitar os amigos... aqui tá empoeirado como nunca.
:)
, faz um temporal que não visitava o museu. erro o meu. venho por estas bandas e encontro dias de chuva e felicidades...
|abraços meus|
Tô precisando falar contigo, mas não encontrei teu endereço virtual.
Será que ainda acessas esse canal?
Me escreva.
abraço.
camilo
camilo, meu caro,
escreva-me no imoralista@hotmail.com
abraço!!
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